Todos os mergulhadores sabem que a maneira mais fácil de comunicar debaixo de água é recorrer ao uso de sinais manuais. Durante o curso de iniciação são ensinados sinais que permitem uma comunicação básica e absolutamente indispensável para um entendimento mínimo entre mergulhadores. Mas a comunicação manual subaquática pode ser muito mais do que um simples B-A-BA.
Independentemente do lado da superfície em que nos encontramos, a comunicação é essencial para o entendimento (ou desentendimento) entre pessoas. Numa era em que comunicar com qualquer pessoa em qualquer parte do mundo nunca foi tão fácil e rápido, é engraçado pensar que quando se desce para o meio subaquático as regras do jogo alteram-se. O telemóvel não funciona (como eu próprio já constatei !), os computadores de mergulho ainda não são compatíveis com a Internet e os Faxes só funcionam à pressão atmosférica. Juntando o facto de a boca estar ocupada em segurar uma determinada peça de equipamento, que por acaso nos permite respirar, e de a voz não se propagar muito bem na água, estamos perante um problema de comunicação.
Num cenário de surdos-mudos, são as mãos que falam. Com um razoável conhecimento de sinais, até poderão falar pelos cotovelos. Existem alguns códigos internacionais que tentam uniformizar a comunicação subaquática, como o da C.M.A.S. (Confédération Mondiale des Activités Subaquatiques) ou da P.A.D.I. (Professional Association of Diving Instructors), que, salvo algumas excepções, são idênticos.
Os primeiros sinais a serem ensinados são os que de alguma forma intervêm na segurança do mergulhador e do seu parceiro. ‘Tudo bem’, ‘subir’, ‘descer’, ‘estou sem ar’, ‘algo está mal’, ‘entrei na reserva’, entre outros, devem ser perfeitamente entendidos e a não compreensão de qualquer um deles pode vir a criar uma situação, no mínimo, embaraçosa. A maneira como os sinais são executados também podem contribuir para a não compreensão dos mesmos. Por essa razão, o emissor deve procurar sempre executa-los de forma clara e bem definida para que não induza no receptor qualquer tipo de dúvida sobre a mensagem.
Geralmente, depois de aprendidos estes sinais básicos, basta adicionar gestos universalmente pré-definidos, como ‘eu’, ‘tu’, ‘naquela direcção’, ‘olha’, etc., e um pouco de senso comum, para conseguir um grau de comunicação suficientemente bom e um entendimento mínimo entre mergulhadores. Depois vêm os sinais mais específicos, direccionados para diferentes tipos de mergulho, como Mergulho Nocturno, com Descompressão, em Gruta, etc., ou para certas actividades como a Fotografia e Arqueologia. Podem também surgir pequenos códigos de sinais usados em situações temporárias, como no caso do ensino, entre o instrutor e o aluno, ou nos clubes de mergulho entre o guia e o turista.
A maioria dos sinais usados no Mergulho Nocturno são também os utilizados durante o dia, tendo em atenção o pormenor de sempre se iluminar a mão que executa o sinal, por forma a que o receptor o possa visualizar. Adicionalmente existem outros que são feitos com o foco de luz, nomeadamente para chamar a atenção ou para aplicar quando as distâncias entre comunicadores são maiores, por exemplo entre o barqueiro e o mergulhador à superfície.
Nos mergulhos mais exigentes, com descompressão ou em gruta, a necessidade de comunicar pode-se acentuar, essencialmente porque as situações com que o mergulhador se depara são mais complexas. Assim, existem sinais para significar muita coisa: ‘pergunta’, ‘patamar’, ‘corrente’, e no caso das grutas, ‘estou emaranhado’, ‘estou entalado’, ‘sedimento’, ‘carreto’, etc. etc.. Depois de os saber individualmente, podemos junta-los e construir uma frase, por exemplo: ‘quanto tempo tens de patamar’ usando o sinal de pergunta seguido do de patamar, ou ‘onde está o carreto’ com ‘pergunta’ e ‘carreto’.
A lista de sinais existentes no mergulho já é bastante razoável e a comunicação debaixo de água pode ser substancialmente melhorada se se souberem mais alguns sinais além dos considerados básicos. Por isso vale a pena olhar para alguns destes sinais e pensar em utiliza-los da próxima vez que quiser dizer ‘vou subir porque estou com frio, entrei na reserva, dói-me a cabeça, a máscara está sempre a meter água, perdi o carreto, estou farto disto!’ e não sabe como!
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